terça-feira, 26 de junho de 2007

Cidade Funcional e Cidade Figurativa

Tirando proveito dos avanços tecnológicos na área da construção civil, as cidades funcionais passaram a ser constituídas por conjuntos de edifícios altos rodeados de espaço público e zonas verdes. A mobilidade seria assegurada por um conjunto de enormes avenidas. Uma cidade funcional, segrega-se os diversos usos do solo através do seu zoneamento segundo quatro funções principais: habitar, trabalhar, recrear-se e circular. As habitações eram insoladas, a localização e orientação dos edifícios deveria ser feitas de modo a maximizar a exposição solar e a evitar sombreamentos.
Um tecido misturado entre o privado, constituído de quarteirões edificados, com os espaços abertos, como praças e ruas.
Na cidade tradicional, a dimensão e a organização do alojamento resultavam da forma do edifício, e este da forma do lote e da sua posição no quarteirão. O espaço era regulado com ruas, quadras, quarteirões e lotes, tendo uma ocupação do solo intensa para a edificação, mantendo a ideia de um tecido continuo e conjunto.
Para o urbanismo moderno, a célula habitacional é o elemento-base de formação da cidade. Le Corbusier ocupa um lugar de destaque no movimento moderno e pode ser considerado o principal inspirador do novo modelo de cidade, cidade essa que apelidou de “radiosa”.
Na cidade funcional, as edificações se encontram isoladas, tendo ao seu fundo espaços abertos com acessibilidade não controlada. A ideia do coletivo tem grande importância na organização dos espaços, estruturados em superquadras, abolindo subdivisões no terrenos, tornam o espaço coletivo à escala da cidade. Tal organização tinha como proposta uma sociedade igualitária que incorporava uma cidade com todas as classes sociais residindo em um mesmo espaço.
O plano procurava o equilíbrio entre a capacidade de fluxo indispensável à circulação urbana e às condições de vida do meio ambiente.
Contrária a Cidade Figurativa, que busca a maior ocupação do solo, a Cidade Funcional apoia a baixa densidade e a baixa ocupação do solo. O espaço privado é constituído pelo interior da edificação e o público era o espaço aberto à escala da cidade.
Tal plano inspirou vários projetos de urbanismo, comparando Brasília com os projetos de Le Corbusier como o Plano Voisin ou Une ville contemporaine pour trois millions d´habitants, mostra as mesmas linhas funcionais, a mesma descontinuidade do espaço urbano, a mesma repetição de formas, as mesmas vias expressas.

Fontes de pesquisa:

COMAS, Carlos Eduardo. Cidade Funcional X Cidade Figurativa, In Revista AU. dez/jan. 80/81


Imagens:






Le Corbusier e o Edifício-Viaduto

Em 1929, dirigindo-se à Buenos Aires, Le Corbusier teve rápida passagem pelo Rio de Janeiro, onde proferiu duas palestras, enquanto que em 1936 sua vinda foi motivada através de um convite do arquiteto Lúcio Costa, que objetivava tê-lo como consultor e colaborador em dois projetos encomendados pelo Governo Federal: o Ministério de Educação e Saúde e a Cidade Universitária.
Em 1929, tendo naquela ocasião suas principais preocupações voltadas a questão da cidade, Le Corbusier já havia desenvolvido algumas de suas propostas urbanas visionárias, como a uma Cidade Contemporânea para três milhões de habitantes (1922) e o Plan Voision para Paris (1925). É com este espírito favorável à grande escala, que acontece o encontro com a América do Sul no final da década de 20, Le Corbusier se vê surpreendido ao confrontar-se com a paisagem da cidade do Rio de Janeiro. A paisagem sul-americana de certa forma causa-lhe um impacto, determinando inclusive uma nova fase produtiva. Segundo alguns críticos: “foi a paisagem do Rio de Janeiro especificamente que maior destaque teve sobre ele”.
Le corbusier sempre foi uma observador atento da paisagem, parecendo buscar o próprio sentido da arquitetura, apesar do carácter racionalista que impregnava seu discurso e sua ação. O carácter da paisagem do Rio de Janeiro demonstrará ao celebre Le corbusier a necessidade de inflexão, devido a sua postura em favor de um racionalismo regulador.
Propondo uma edifício sinuoso, que suporta uma auto-estrada ao longo do território que conforma a cidade do Rio de Janeiro, o que Le Corbusier tem em mente é a possibilidade de todos os habitantes e usuários desta megaestrutura arquitetônica terem eternamente a paisagem da cidade diante de si.
Acompanhando as inflexões do mar e da montanha, o edifício sinuoso quer participar da paisagem, ao mesmo tempo que assume sua missão de permitir o desfrute da contemplação da paisagem “natural” do Rio de Janeiro.
A imagem do meandro dos rios - a lei dos meandros, descoberta por Le corbusier em sua primeira viagem à América do Sul, ao sobrevoar as áreas ruais- pode ser rebatido para a estrutura que conforma a fisionomia do edifício-viaduto. Sinuoso como os rios, que se deslocam horizontalmente ao longo do território e compõe uma paisagem específica, o edifício-viaduto transfere a lógica da água- energia que flui- pela dos automóveis – maquinas que se locomovem.
Apesar de seu objetivo ser o de desenvolver um plano urbanístico, em seus desenhos produzidos durante o processo de estudo, é possível perceber algumas características sobre os aspectos de Le Corbusier lançar seu olhar sobre a paisagem, praticamente desconsiderando a arquitetura da cidade, ignorando a paisagem urbana, atenta-se basicamente para o mar, as montanhas e as parcelas do território que se estende entre ambos. No caso do Rio de Janeiro, com suas particularidades morfológicas: o mar e as montanhas estão sempre presentes e são indissociáveis, definindo a imagem do lugar.
Justamente a favor de uma arquitetura à escala da paisagem se deve a ação corbusiana proposta para o Rio de Janeiro: o edifício-viaduto que, percorrendo a cidade com 100 metros de altura ao longo do litoral da cidade, poderia equilibrar a relação arquitetura-paisagem, a relação artifício-natureza.
O Rio de Janeiro que Le Corbusier representa em seus desenhos é reduzido à poucos elementos: os naturais, que tornam a cidade particular e a identificam, e a sua correspondência: o edifício-Viaduto. Uma única construção para resolver a questão da paisagem urbana do lugar, de modo a transformá-lo efetivamente em um lugar a “medida do homem” e voltado para o Futuro.

Fonte de Pesquisa:

TSIOMIS, Yannis. Le Corbusier: Rio de Janeiro 1929-1936, Centro de Arquitetura e Urbanismo do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 1998

Donat-Afred Agache no Rio de Janeiro

Donat-Afred Agache foi convidado a visitar o Rio de Janeiro em 1927, em vista a preparação do plano de manejo da cidade. Como o primeiro plano urbanístico datava de 1875 e o crescimento acentuou-se depois dos anos 20, esse segundo plano para a cidade, que era capital do país, tinha grande importância à seus habitantes.
Fundamentalmente, o pensamento de Agache é marcado pelo positivismo de Le Play e de seus sucessores. As ideias de Le Play tiveram um papel importante no conjunto de reformas Francesas do final do século XIX, e do começo do século XX. Mas é no grupo La Science Sociale que Agache encontra elementos que permitam articular um estudo positivo e sistemático da cidade. Seu percurso privilegiava, ao lado de uma consulta da população, estudos detalhados do meio físico e humano num método cientificamente rigoroso. O exame do seu plano para a cidade do Rio de Janeiro constitui um verdadeiro tratado de urbanismo, reunindo uma quantidade considerável de informações sociais e jurídicas.
Para Agache o urbanismo era uma ciência de observação, classificação, análise e síntese, sendo o sucesso do projeto para a cidade dependente do conhecimento do autor sobre a mesma. Utilizando uma metáfora do organismo, a cidade é identificada em termos como: “organismo vivo, cérebro ou corpo urbano”. Primeiramente deve-se representar a cidade como um corpo organizado, compreendido em um conjunto de sistemas funcionais: o circulatório (complexos viários e transportes), o respiratório (espaços livres), o nervoso (rede elétrica) e o digestivo (rede de esgotos). Ao desenvolver esse organismo pode apresentar algumas “crises de crescimentos”, assim o urbanista deve assumir um papel “Clínico”, para “cuidar, manter e reparar esse corpo doente”.
Em seus trabalhos e planos, Agache via a cidade através do prisma de uma concepção funcionalista e econômica. A riqueza da vida social, sua complexidade e as múltiplas formas que ela se manifestava no espaço urbano escapava-lhe, sendo as funções urbanas clássicas as que mais lhe chamavam a atenção por trazerem consigo o desenvolvimento econômico: funções comerciais, industriais, políticas, administrativas e turística. Sendo assim, a metáfora médica sendo abandonada e o funcionalismo persistindo, sempre em detrimento da atenção dada ao espaço público.
No caso do Rio de Janeiro, remodelação começa com um estudo “antropogeográfico”, cuja primeira parte consiste em um estudo da história do desenvolvimento físico da cidade que busca apresentar as principais práticas urbanas adotadas diante os problemas, como o arrasamento de morros, o aterro dos pântanos, os problemas correspondentes de saneamento, traçado de vias e linhas de transporte.
Posteriormente são definidas as funções sócioeconômicas – regional, comercial, agrícola e de abastecimento. A importância da moradia familiar, propondo a criação de extensões residenciais, refletindo o modo de crescimento tentacular imposto pelo sítio acidentado, estabelecendo assim uma estrátegia de zoneamento da cidade, devido três tipo: local para o legislativo e o administrativo; um local de produção para as industrias e agricultura; um local para o centro comercial, bancos, aeroportos, estações ferroviárias; e um local para consumo com pequenos comércios, residências, espaços verdes, e centros universitários.
Devido as características da Capital do Brasil não estar a altura de uma capital, Agache propôs, para a parte central, o monumentalismo e o ordenamento dos grandes prédios públicos e dos jardins, juntos aos edifícios comerciais a fim de exprimir as “ideais econômicos e sociais que caracterizavam nossa época”. Por isso, Agache apoiava o manejo de uma ampla praça pública em forma semi-circular, aberta sobre a baía, que constituísse a “porta” da cidade e do país do qual era a capital.

Fontes de Pesquisa:
TSIOMIS, Yannis. Le Corbusier: Rio de Janeiro 1929-1936, Centro de Arquitetura e Urbanismo do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 1998

terça-feira, 29 de maio de 2007

Paris antes das intervenções urbanas de Haussman


Entre 1830 e 1850, a urbanística moderna dá seus primeiros passos, onde discutem os defeitos da cidade industrial, por mérito dos técnicos e dos higienistas que se esforçam por remediá-los. As primeiras leis sanitárias são o modesto começo sobre o qual será construído, o complicado edifício da legislação urbanística contemporânea.
A atenção dos reformistas limita-se a alguns setores e suas ações, volta-se para a eliminação da insuficiência de esgotos, de água potável, a difusão das epidemias.
A construção dos esgotos e dos aquedutos exige um mínimo de regularidade, planimétrica e altimétrica. A execução de algumas obras públicas, como estradas, ruas e ferrovias, exige novos processos de expropriação do solo, e uma série de novos instrumentos técnicos.
A urbanística desempenha um papel importante neste novo ciclo de reformas e transforma-se em um dos mais eficazes instrumentos de poder, especialmente na França.
As experiências técnicas não encontram mais obstáculos, mas sendo solicitadas pelo novo clima político, desenvolve-se com grande rapidez nos decênios posteriores a 1848. Nasce, assim, a urbanística neoconservadora, à qual se deve a reorganização das cidades européias na segunda metade do século XIX e nos primeiros decênios do XX.
Ao lado das preocupações de ordem política, existem motivos econômicos e sociais que impelem no mesmo sentido. O centro da antiga cidade é cada vez mais claramente incapaz de suportar o peso de um organismo tão crescido; as ruas medievais e barrocas não são suficientes para o trânsito, às velhas casas parecem inadequadas face às exigências higiênicas da cidade industrial, a concentração da função e dos interesses na capital fez com que aumentassem tanto o preço dos terrenos que uma radical transformação nas edificações tornou-se inevitável.
Fonte de Pesquisa:
BENEVOLO, Leonardo. A Cidade e o Arquiteto, Método e História na Arquitetura, São Paulo: Perspectiva, 1984.

A Paris de Haussman, linearidade, vias largas, edifícios padronizados e pontos turísticos emoldurados.


As obras executadas por Haussmann nos dezessete anos de poder podem ser divididas em cinco categorias:
Antes de tudo, as obras viárias: a urbanização dos terrenos periféricos, com o traçado de novas retículas viárias, e a abertura de novas artérias nos velhos bairros, com a reconstrução de edifícios ao longo do novo alinhamento.
A velha Paris compreendia 384 quilômetros de ruas no centro e 335 nos subúrbios; ele abre, no centro, 95 quilômetros de ruas novas e na periferia, 70 quilômetros. O núcleo medieval é cortado em todos os sentidos, destruindo muitos dos antigos bairros, especialmente aqueles perigosos situados no Leste, que eram o foco de todas as revoltas. Na prática, Haussmann sobrepõe ao corpo da antiga cidade um nova malha de ruas largas e retilíneas, formando um sistema coerente de comunicação entre os principais centros da vida urbana e as estações ferroviárias, garantindo, ao mesmo tempo, eficiência diretora ao trânsito, por cruzamento e por anéis; ele evita destruir os monumento mais importantes, mas faz com que fiquem isolados e adota-os como pontos de fuga para as novas perspectivas viárias.
Em segundo lugar, os trabalhos de edificação realizados diretamente pela Administração e por outras entidades públicas. Compete à Administração a construção dos edifícios públicos nos novos bairros e nos velhos submetidos às transformações reguladoras.
Merecem um relato à parte os trabalhos para a criação dos parques públicos. Haussmann começa a arrumar o Bois Boulogne, a antiga floresta situada entre o Sena e as fortificações ocidentais; em virtude de sua posição e de sua vizinhança com os Champs-Elysées, este parque torna-se logo sede da vida mais elegante de Paris.
Haussmann renova também as instalações da velha Paris. Instalações hidráulicas, nova rede de esgotos, a instalação de iluminação é triplicada, serviço de transportes públicos é reordenado.
Finalmente, Haussmann modifica a sede administrativa da capital. Em 1859, onze Comunas em torno de Paris, compreendidas entre o cinturão alfandegário e as fortificações de Thiers, são anexadas à cidade de Paris. Com efeito, as obras públicas não fazem somente subir os preços dos terrenos circundantes, mas influem em toda a cidade, favorecendo seu crescimento e aumentando as rendas globais.
Fonte de Pesquisa:
BENEVOLO, Leonardo. A Cidade e o Arquiteto, Método e História na Arquitetura, São Paulo: Perspectiva, 1984.

A Paris atual, da cidade mais moderna à cidades mais congestionada


O plano de Haussmann interessa-nos hoje, sobretudo enquanto primeiro exemplar de uma ação suficientemente ampla e enérgica para acompanhar o passo das transformações que ocorrem em uma grande cidade moderna, e para regulá-las com determinação ao invés de sofrê-las passivamente.
Haussmann possui uma capacidade instintiva de compreender e de aderir à realidade de seu tempo e, por essa razão, está apto a modificá-la com tanto êxito: a sociedade do Segundo Império encontra em suas modificações uma fachada perfeitamente aderente, e o eco dessa concordância entre programas e realidade, obtido faz um século, ainda é perceptível em nossos dias, no fascínio e na vitalidade que emanam das ruas centrais de Paris.
A capacidade de Haussmann de aderir sem reservas à realidade de seu tempo é também a chave para compreender, tanto o grande sucesso de seus métodos e as numerosas imitações, quanto à discussão sempre viva sobre sua figura e sobre sua obra, até os dias de hoje.
O plano de Haussmann funcionou bem por muitas décadas, graças às margens abundantes contidas em seu espaço, mas depois demonstrou ser inadequado às necessidades crescentes da metrópole; então percebeu-se que aquele dispositivo imponente está destituído de toda flexibilidade e opõe uma extraordinária resistência a todas as modificações; fez de Paris a cidade mais moderna do século XIX, mas a mais congestionada e difícil de planificar do século XX.
As realizações de Haussmann em Paris constituem o protótipo daquilo que chamamos de urbanística neoconservadora; esta transforma-se na praxe comum de todas as cidades européias, sobre depois de 1870, uma série de iniciativas na Itália, México, Brasil, Inglaterra e etc.
Fonte de Pesquisa:
BENEVOLO, Leonardo. A Cidade e o Arquiteto, Método e História na Arquitetura, São Paulo: Perspectiva, 1984.

A reforma urbana do Rio de Janeiro


No século XX, o Rio de Janeiro enfrentava graves problemas sociais, decorrentes de seu crescimento rápido e desordenado. Com o declínio do trabalho escravo, a cidade passara a receber grandes contingentes de imigrantes europeus e de ex-escravos, atraídos pelas oportunidades ao trabalho assalariado.
O incremento populacional e o aumento da pobreza agravaram a crise habitacional, constante no Rio desde meados do século XIX. O epicentro dessa crise era ainda o centro do Rio – a Cidade Velha e suas adjacências –, onde se multiplicavam as habitações coletivas e onde eclodiam as violentas epidemias de febre amarela, varíola, cólera-morbo.
Os higienistas foram os primeiros a formular um discurso articulado sobre as condições de vida na cidade, propondo intervenções drásticas para restaurar o equilíbrio do organismo doente. O primeiro plano urbanístico para o Rio de Janeiro foi elaborado entre duas epidemias violentas (1873 e 1876), mas uma ação concreta nesse sentido levaria cerca de três décadas para se realizar. Foi a estabilidade político-econômica, alcançada no governo Campos Sales que permitiu ao seu sucessor, Rodrigues Alves, promover, entre 1903 e 1906, o ambicioso programa de renovação urbana da capital.
Tratada como questão nacional, a reforma urbana sustentou-se no tripé saneamento, abertura de ruas e embelezamento, tendo por finalidade última atrair capitais estrangeiros para o país. Era preciso sanear a cidade e, para isso, as ruas deveriam ser necessariamente mais largas, criando condições para arejar, ventilar e iluminar melhor os prédios. Ruas mais largas estimulariam igualmente a adoção de um padrão arquitetônico mais digno de uma cidade-capital.
Apoiada nas idéias de civilização, beleza e regeneração física e moral, a reforma promoveu uma intensa valorização do solo urbano da área central, atingindo a população de baixa renda que ali se concentrava. Cerca de 1.600 velhos prédios residenciais foram demolidos.
A reforma da capital constituiu, sem dúvida, uma ruptura no processo de urbanização do Rio de Janeiro, um ponto de inflexão no qual a "cidade colonial" cedeu lugar, de forma definitiva à "cidade burguesa", moderna, do século XX, que tinha como parâmetros às metrópoles européias.
Fonte de Pesquisa:
DEL BRENA, Giovanna Rosso (org.). O Rio de Janeiro de Pereira Passos. Uma cidade em questão II. Rio de Janeiro: Index: PUC/RJ, 1985.

As modificações de Pereira Passos e criação da Avenida Central


O governo federal resolveu agir, em duas frentes: reforma urbana e combate a doenças. O presidente Rodrigues Alves entregou a prefeitura da capital a Francisco Pereira Passos. Filho de um rico proprietário rural, Pereira Passos estudara engenharia e fora nomeado adido da legação brasileira em Paris, onde completara seus estudos e observara a reforma empreendida na capital francesa por Georges Eugène, barão Haussmann: bairros inteiros eram arrasados para dar lugar a largas avenidas e praças - o que facilitava o trânsito e evitava a formação das barricadas, que então caracterizavam as revoltas populares. Para implantar o modelo haussmaniano, Pereira Passos recebeu do governo amplos poderes. Como em Paris, casas foram demolidas, ruelas estreitas foram alargadas, amplas avenidas foram construídas.
A avenida Central foi o segundo grande eixo da remodelação urbana promovida no Rio de Janeiro, na primeira década desse século. Através dela, interligaram-se duas linhas fundamentais do tráfego: a avenida do Cais a avenida Beira-Mar. A primeira margeava as instalações do novo porto, dirigindo-se para São Cristovão e servindo de limite para expansão dos bairros da Saúde, Gamboa e Santo Cristo. A outra, uma via ajardinada de 25 metros de largura seguia pela orla em direção à zona Sul.
A abertura da avenida Central ficou sob a responsabilidade da Comissão Construtora da Avenida Central, criada em novembro de 1903 e chefiada por Paulo de Frontin. As demolições, que começaram em 8 de março e se estenderam até agosto, atingiram 1.600 velhos prédios residenciais e comerciais. Com seus 1.800 metros de comprimento por 33 metros de largura e calçadas de sete metros, a avenida Central foi entregue ao público em novembro de 1905, ocasião em que foi inaugurada a iluminação elétrica da cidade.
Por volta de 1910 já estavam prontos os prédios "monumentais" da grande avenida, quase todos exuberantemente ecléticos, de lojas, clubes, hotéis, jornais, empresas e do próprio Estado. A literatura propagandística da época converteu a nova avenida no símbolo da "Cidade Maravilhosa".
A impotência Arquitetônica da Avenida Central (Rio Branco a partir de 1912 e, ainda hoje, a artéria mais importante do centro) manteve-se intacta somente até a difusão do concreto armado e a proliferação dos arranha-céus, a partir dos anos 1930-40.
Fonte de Pesquisa:

DEL BRENA, Giovanna Rosso (org.). O Rio de Janeiro de Pereira Passos. Uma cidade em questão II. Rio de Janeiro: Index: PUC/RJ, 1985.

Vitória antes das intervenções urbanas

Seja demolindo, construindo, aterrando ou elaborando o 1º código de Posturas da cidade, em 1894, Muniz Freire inicia uma “nova forma de governar”.
A transformação, na conjuntura política estadual é iniciada, e se concretizam definitivamente, modificando a partir daí, a atuação dos governantes que passam a planejar ou a programar suas realizações e executá-las.
As modificações são dotadas de um caráter acentuadamente sanitarista e higienizadora, as intervenções têm neste momento, a intenção de construir uma Nova Cidade, mais moderna, onde a linguagem urbana é a da retidão das formas e da amplitude dos espaços, numa negação ao indefinido, ao “confuso da cidade colonial”.
A elite econômica local, exportadores e comerciantes de café, passa a desejar uma cidade mais limpa, organizada, higienizada e harmônica.
A economia capixaba, que tinha como base à lavoura cafeeira para exportação, passava por um de seus melhores momentos, acompanhando uma situação que se dava em toda a economia nacional. Inflama-se uma onda de melhorias urbanas que renovam a cidade de forma à “colocá-las à altura” do novo momento da economia capixaba.
A capital passa a ser completamente reorganizada, alinhada, remodelada, através de uma série de intervenções – aterros, demolições, correção de alinhamentos, jardins – que dão a cidade um novo “ar”, uma nova “fisionomia”, onde a limpeza e clareza nas formas tornam-se a expressão do “status quo” da elite local.
As reformas vêm carregadas, ideologicamente, das teorias racionalistas que, desde meados do século 19 circulavam na Europa, tendo em Hausmann maior exemplo com suas obras no cento de Paris onde a “velha” estrutura é modificada pelas amplas avenidas.
O que passa em Vitória não é muito diferente, tomadas às devidas proporções, tanto ao nível da economia, quanto abrangência e dimensão das intervenções.
Assim, a cidade é “tratada”, remodelada e estendida atendendo aos interesses e aspirações da burguesia local, então em ascensão com o crescimento da economia capixaba, em Vitória, as melhorias no seu aspecto e nas condições de salubridade ocorram associadas a modificações em sua estrutura urbana de modo a aumentar a eficiência daquela que é seu sustentáculo, a atividade comercial.

Fontes de Pesquisa:

ALMEIDA, Renata Hermany, O Centro de Vitória, Monografia – Prós-Graduação, Curso de Arquitetura e Urbanismo, UFES, 1986.

As primeiras Modificações Urbanas de Muniz Freire


A cidade projetada por Muniz Freire irá ter seu primeiro momento no governo de Jerônimo Monteiro, quando já apresentar um novo aspecto, em que suas linhas coloniais, seu traçado tortuoso, seus alagados, já apresentam as primeiras modificações.
Assim, a cidade, cujo traçado urbano seguia a topografia do terreno, com ruas tortuosas, estreitas, esburacadas e mal iluminadas; onde o transporte era realizado por carros de boi; pelas péssimas condições higiênicas, sem comunicação viária com outros centros maiores; a partir do Governo Muniz Freire, a ser refeita, redesenhada totalmente.
Em Vitória são criadas as condições necessárias para que o comércio melhor se desenvolva, através de intervenções na cidade, localizadas, predominantemente, junto à área comercial.
As modificações de alinhamentos, aterros, reconstruções e demolições mudam o aspecto da cidade colonial.
A última década do século 19 é marcada assim, pelo acentuado número e pela grandeza das intervenções na cidade. Apresentam um caráter basicamente sanitárias, as melhorias desejadas para a capital.
Além da reconstrução do “velho”, as transformações na cidade incluem a sua expansão, pela construção de novos bairros. Em 1895, Francisco Saturnino de Brito elabora o estudo e a construção do bairro do Novo Arrabalde. Esse projeto marca o “espírito” da época, na medida que, seu elaborador vinha de estadas da Europa, da qual traz os ideais urbanísticos expressos por Hausmann, nas grandes e amplas avenidas e “boulevardes” de Paris.
Os governos que se seguem a Muniz Freire encontram dificuldades em dar continuidade às obras, devido à queda das receitas públicas em função da grande crise da lavoura cafeeira, e dos elevados encargos financeiros, ocasionados pelo empréstimo de 1894. Essa crise que se inicia em 1897, se estende até 1910.
Fontes de Pesquisa:

ALMEIDA, Renata Hermany, O Centro de Vitória, Monografia – Prós-Graduação, Curso de Arquitetura e Urbanismo, UFES, 1986.