terça-feira, 26 de junho de 2007

Donat-Afred Agache no Rio de Janeiro

Donat-Afred Agache foi convidado a visitar o Rio de Janeiro em 1927, em vista a preparação do plano de manejo da cidade. Como o primeiro plano urbanístico datava de 1875 e o crescimento acentuou-se depois dos anos 20, esse segundo plano para a cidade, que era capital do país, tinha grande importância à seus habitantes.
Fundamentalmente, o pensamento de Agache é marcado pelo positivismo de Le Play e de seus sucessores. As ideias de Le Play tiveram um papel importante no conjunto de reformas Francesas do final do século XIX, e do começo do século XX. Mas é no grupo La Science Sociale que Agache encontra elementos que permitam articular um estudo positivo e sistemático da cidade. Seu percurso privilegiava, ao lado de uma consulta da população, estudos detalhados do meio físico e humano num método cientificamente rigoroso. O exame do seu plano para a cidade do Rio de Janeiro constitui um verdadeiro tratado de urbanismo, reunindo uma quantidade considerável de informações sociais e jurídicas.
Para Agache o urbanismo era uma ciência de observação, classificação, análise e síntese, sendo o sucesso do projeto para a cidade dependente do conhecimento do autor sobre a mesma. Utilizando uma metáfora do organismo, a cidade é identificada em termos como: “organismo vivo, cérebro ou corpo urbano”. Primeiramente deve-se representar a cidade como um corpo organizado, compreendido em um conjunto de sistemas funcionais: o circulatório (complexos viários e transportes), o respiratório (espaços livres), o nervoso (rede elétrica) e o digestivo (rede de esgotos). Ao desenvolver esse organismo pode apresentar algumas “crises de crescimentos”, assim o urbanista deve assumir um papel “Clínico”, para “cuidar, manter e reparar esse corpo doente”.
Em seus trabalhos e planos, Agache via a cidade através do prisma de uma concepção funcionalista e econômica. A riqueza da vida social, sua complexidade e as múltiplas formas que ela se manifestava no espaço urbano escapava-lhe, sendo as funções urbanas clássicas as que mais lhe chamavam a atenção por trazerem consigo o desenvolvimento econômico: funções comerciais, industriais, políticas, administrativas e turística. Sendo assim, a metáfora médica sendo abandonada e o funcionalismo persistindo, sempre em detrimento da atenção dada ao espaço público.
No caso do Rio de Janeiro, remodelação começa com um estudo “antropogeográfico”, cuja primeira parte consiste em um estudo da história do desenvolvimento físico da cidade que busca apresentar as principais práticas urbanas adotadas diante os problemas, como o arrasamento de morros, o aterro dos pântanos, os problemas correspondentes de saneamento, traçado de vias e linhas de transporte.
Posteriormente são definidas as funções sócioeconômicas – regional, comercial, agrícola e de abastecimento. A importância da moradia familiar, propondo a criação de extensões residenciais, refletindo o modo de crescimento tentacular imposto pelo sítio acidentado, estabelecendo assim uma estrátegia de zoneamento da cidade, devido três tipo: local para o legislativo e o administrativo; um local de produção para as industrias e agricultura; um local para o centro comercial, bancos, aeroportos, estações ferroviárias; e um local para consumo com pequenos comércios, residências, espaços verdes, e centros universitários.
Devido as características da Capital do Brasil não estar a altura de uma capital, Agache propôs, para a parte central, o monumentalismo e o ordenamento dos grandes prédios públicos e dos jardins, juntos aos edifícios comerciais a fim de exprimir as “ideais econômicos e sociais que caracterizavam nossa época”. Por isso, Agache apoiava o manejo de uma ampla praça pública em forma semi-circular, aberta sobre a baía, que constituísse a “porta” da cidade e do país do qual era a capital.

Fontes de Pesquisa:
TSIOMIS, Yannis. Le Corbusier: Rio de Janeiro 1929-1936, Centro de Arquitetura e Urbanismo do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 1998

Um comentário:

Clara Luiza Miranda disse...

Cf.
http://www.vitruvius.com.br/arquitextos/arq078/arq078_02.asp
Este livro tbm tem dados sobre Agache no Brasil:
RIBEIRO, L.C. de Q., PECHMAN, R. (orgs.). Cidade, povo e nação. Gênese do urbanismo moderno. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1996. 454p