terça-feira, 26 de junho de 2007

Cidade Funcional e Cidade Figurativa

Tirando proveito dos avanços tecnológicos na área da construção civil, as cidades funcionais passaram a ser constituídas por conjuntos de edifícios altos rodeados de espaço público e zonas verdes. A mobilidade seria assegurada por um conjunto de enormes avenidas. Uma cidade funcional, segrega-se os diversos usos do solo através do seu zoneamento segundo quatro funções principais: habitar, trabalhar, recrear-se e circular. As habitações eram insoladas, a localização e orientação dos edifícios deveria ser feitas de modo a maximizar a exposição solar e a evitar sombreamentos.
Um tecido misturado entre o privado, constituído de quarteirões edificados, com os espaços abertos, como praças e ruas.
Na cidade tradicional, a dimensão e a organização do alojamento resultavam da forma do edifício, e este da forma do lote e da sua posição no quarteirão. O espaço era regulado com ruas, quadras, quarteirões e lotes, tendo uma ocupação do solo intensa para a edificação, mantendo a ideia de um tecido continuo e conjunto.
Para o urbanismo moderno, a célula habitacional é o elemento-base de formação da cidade. Le Corbusier ocupa um lugar de destaque no movimento moderno e pode ser considerado o principal inspirador do novo modelo de cidade, cidade essa que apelidou de “radiosa”.
Na cidade funcional, as edificações se encontram isoladas, tendo ao seu fundo espaços abertos com acessibilidade não controlada. A ideia do coletivo tem grande importância na organização dos espaços, estruturados em superquadras, abolindo subdivisões no terrenos, tornam o espaço coletivo à escala da cidade. Tal organização tinha como proposta uma sociedade igualitária que incorporava uma cidade com todas as classes sociais residindo em um mesmo espaço.
O plano procurava o equilíbrio entre a capacidade de fluxo indispensável à circulação urbana e às condições de vida do meio ambiente.
Contrária a Cidade Figurativa, que busca a maior ocupação do solo, a Cidade Funcional apoia a baixa densidade e a baixa ocupação do solo. O espaço privado é constituído pelo interior da edificação e o público era o espaço aberto à escala da cidade.
Tal plano inspirou vários projetos de urbanismo, comparando Brasília com os projetos de Le Corbusier como o Plano Voisin ou Une ville contemporaine pour trois millions d´habitants, mostra as mesmas linhas funcionais, a mesma descontinuidade do espaço urbano, a mesma repetição de formas, as mesmas vias expressas.

Fontes de pesquisa:

COMAS, Carlos Eduardo. Cidade Funcional X Cidade Figurativa, In Revista AU. dez/jan. 80/81


Imagens:






Le Corbusier e o Edifício-Viaduto

Em 1929, dirigindo-se à Buenos Aires, Le Corbusier teve rápida passagem pelo Rio de Janeiro, onde proferiu duas palestras, enquanto que em 1936 sua vinda foi motivada através de um convite do arquiteto Lúcio Costa, que objetivava tê-lo como consultor e colaborador em dois projetos encomendados pelo Governo Federal: o Ministério de Educação e Saúde e a Cidade Universitária.
Em 1929, tendo naquela ocasião suas principais preocupações voltadas a questão da cidade, Le Corbusier já havia desenvolvido algumas de suas propostas urbanas visionárias, como a uma Cidade Contemporânea para três milhões de habitantes (1922) e o Plan Voision para Paris (1925). É com este espírito favorável à grande escala, que acontece o encontro com a América do Sul no final da década de 20, Le Corbusier se vê surpreendido ao confrontar-se com a paisagem da cidade do Rio de Janeiro. A paisagem sul-americana de certa forma causa-lhe um impacto, determinando inclusive uma nova fase produtiva. Segundo alguns críticos: “foi a paisagem do Rio de Janeiro especificamente que maior destaque teve sobre ele”.
Le corbusier sempre foi uma observador atento da paisagem, parecendo buscar o próprio sentido da arquitetura, apesar do carácter racionalista que impregnava seu discurso e sua ação. O carácter da paisagem do Rio de Janeiro demonstrará ao celebre Le corbusier a necessidade de inflexão, devido a sua postura em favor de um racionalismo regulador.
Propondo uma edifício sinuoso, que suporta uma auto-estrada ao longo do território que conforma a cidade do Rio de Janeiro, o que Le Corbusier tem em mente é a possibilidade de todos os habitantes e usuários desta megaestrutura arquitetônica terem eternamente a paisagem da cidade diante de si.
Acompanhando as inflexões do mar e da montanha, o edifício sinuoso quer participar da paisagem, ao mesmo tempo que assume sua missão de permitir o desfrute da contemplação da paisagem “natural” do Rio de Janeiro.
A imagem do meandro dos rios - a lei dos meandros, descoberta por Le corbusier em sua primeira viagem à América do Sul, ao sobrevoar as áreas ruais- pode ser rebatido para a estrutura que conforma a fisionomia do edifício-viaduto. Sinuoso como os rios, que se deslocam horizontalmente ao longo do território e compõe uma paisagem específica, o edifício-viaduto transfere a lógica da água- energia que flui- pela dos automóveis – maquinas que se locomovem.
Apesar de seu objetivo ser o de desenvolver um plano urbanístico, em seus desenhos produzidos durante o processo de estudo, é possível perceber algumas características sobre os aspectos de Le Corbusier lançar seu olhar sobre a paisagem, praticamente desconsiderando a arquitetura da cidade, ignorando a paisagem urbana, atenta-se basicamente para o mar, as montanhas e as parcelas do território que se estende entre ambos. No caso do Rio de Janeiro, com suas particularidades morfológicas: o mar e as montanhas estão sempre presentes e são indissociáveis, definindo a imagem do lugar.
Justamente a favor de uma arquitetura à escala da paisagem se deve a ação corbusiana proposta para o Rio de Janeiro: o edifício-viaduto que, percorrendo a cidade com 100 metros de altura ao longo do litoral da cidade, poderia equilibrar a relação arquitetura-paisagem, a relação artifício-natureza.
O Rio de Janeiro que Le Corbusier representa em seus desenhos é reduzido à poucos elementos: os naturais, que tornam a cidade particular e a identificam, e a sua correspondência: o edifício-Viaduto. Uma única construção para resolver a questão da paisagem urbana do lugar, de modo a transformá-lo efetivamente em um lugar a “medida do homem” e voltado para o Futuro.

Fonte de Pesquisa:

TSIOMIS, Yannis. Le Corbusier: Rio de Janeiro 1929-1936, Centro de Arquitetura e Urbanismo do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 1998

Donat-Afred Agache no Rio de Janeiro

Donat-Afred Agache foi convidado a visitar o Rio de Janeiro em 1927, em vista a preparação do plano de manejo da cidade. Como o primeiro plano urbanístico datava de 1875 e o crescimento acentuou-se depois dos anos 20, esse segundo plano para a cidade, que era capital do país, tinha grande importância à seus habitantes.
Fundamentalmente, o pensamento de Agache é marcado pelo positivismo de Le Play e de seus sucessores. As ideias de Le Play tiveram um papel importante no conjunto de reformas Francesas do final do século XIX, e do começo do século XX. Mas é no grupo La Science Sociale que Agache encontra elementos que permitam articular um estudo positivo e sistemático da cidade. Seu percurso privilegiava, ao lado de uma consulta da população, estudos detalhados do meio físico e humano num método cientificamente rigoroso. O exame do seu plano para a cidade do Rio de Janeiro constitui um verdadeiro tratado de urbanismo, reunindo uma quantidade considerável de informações sociais e jurídicas.
Para Agache o urbanismo era uma ciência de observação, classificação, análise e síntese, sendo o sucesso do projeto para a cidade dependente do conhecimento do autor sobre a mesma. Utilizando uma metáfora do organismo, a cidade é identificada em termos como: “organismo vivo, cérebro ou corpo urbano”. Primeiramente deve-se representar a cidade como um corpo organizado, compreendido em um conjunto de sistemas funcionais: o circulatório (complexos viários e transportes), o respiratório (espaços livres), o nervoso (rede elétrica) e o digestivo (rede de esgotos). Ao desenvolver esse organismo pode apresentar algumas “crises de crescimentos”, assim o urbanista deve assumir um papel “Clínico”, para “cuidar, manter e reparar esse corpo doente”.
Em seus trabalhos e planos, Agache via a cidade através do prisma de uma concepção funcionalista e econômica. A riqueza da vida social, sua complexidade e as múltiplas formas que ela se manifestava no espaço urbano escapava-lhe, sendo as funções urbanas clássicas as que mais lhe chamavam a atenção por trazerem consigo o desenvolvimento econômico: funções comerciais, industriais, políticas, administrativas e turística. Sendo assim, a metáfora médica sendo abandonada e o funcionalismo persistindo, sempre em detrimento da atenção dada ao espaço público.
No caso do Rio de Janeiro, remodelação começa com um estudo “antropogeográfico”, cuja primeira parte consiste em um estudo da história do desenvolvimento físico da cidade que busca apresentar as principais práticas urbanas adotadas diante os problemas, como o arrasamento de morros, o aterro dos pântanos, os problemas correspondentes de saneamento, traçado de vias e linhas de transporte.
Posteriormente são definidas as funções sócioeconômicas – regional, comercial, agrícola e de abastecimento. A importância da moradia familiar, propondo a criação de extensões residenciais, refletindo o modo de crescimento tentacular imposto pelo sítio acidentado, estabelecendo assim uma estrátegia de zoneamento da cidade, devido três tipo: local para o legislativo e o administrativo; um local de produção para as industrias e agricultura; um local para o centro comercial, bancos, aeroportos, estações ferroviárias; e um local para consumo com pequenos comércios, residências, espaços verdes, e centros universitários.
Devido as características da Capital do Brasil não estar a altura de uma capital, Agache propôs, para a parte central, o monumentalismo e o ordenamento dos grandes prédios públicos e dos jardins, juntos aos edifícios comerciais a fim de exprimir as “ideais econômicos e sociais que caracterizavam nossa época”. Por isso, Agache apoiava o manejo de uma ampla praça pública em forma semi-circular, aberta sobre a baía, que constituísse a “porta” da cidade e do país do qual era a capital.

Fontes de Pesquisa:
TSIOMIS, Yannis. Le Corbusier: Rio de Janeiro 1929-1936, Centro de Arquitetura e Urbanismo do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 1998